Gás mostarda, C4H8Cl2S
Química Nova Interativa
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Gás Mostarda
Na guerra e na paz, porém não mais...


O gás mostarda, fórmula C4H8Cl2S - 159 g.mol-1, é inodoro e incolor (T.F. 14,4 °C).

 

Na molécula de gás mostarda, salienta-se:

 

soldado
Soldado da primeira guerra mundial comqueimaduras severas causadas por exposição ao gás mostarda

Gás mostarda é o nome comum dado ao 1,1-tio-bis-2-cloroetano, uma substância conhecida pelo seu uso como arma química. Acredita-se que ele tenha sido usado, pela primeira vez, nas proximidades de Ypres, em Flandres, em 12 de Julho de 1917, durante a primeira guerra mundial. O nome gás mostarda tornou-se o mais utilizado pois a forma impura desse composto tem um odor acre semelhante ao da mostarda (outros nomes incluem "H", iperita e mostarda de enxofre). O gás mostarda é uma substância vesicante, isto é, causa queimaduras com formação de bolhas na pele e nas mucosas do trato respiratório, podendo levar à cegueira e morte por asfixia. Porém, estes sintomas não são imediatos e, como trata-se de uma gás incolor, as vítimas começam a sentir os efeitos horas depois da exposição, quando normalmente a lesão já é extensa.

O gás mostarda foi sintetizado em 1860 por Frederick Guthrie, a partir da reação da reação entre etileno e SCl2. Guthrie notou os efeitos tóxicos da substância na sua própria pele.

 

Reação

 

O gás mostarda é pouco solúvel em água, o que dificulta sua remoção nas vítimas, já que a substância penetra na pele e pode concentrar-se no tecido adiposo (sob a pele). Porém, o gás mostarda reage com a água dos tecidos (hidrólise) em processo que envolve um cátion sulfônio cíclico altamente reativo, formando ácido clorídrico e 1,4-tioxano, dois produtos irritantes que originam as bolhas observadas.

     

        fig2

   +H2O

 →

 

      

      FIG3

  
     + 
2 HCl (aq)
             

Apesar da facilidade de hidrólise do gás mostarda, é capaz de durar dezenas de anos sob a forma sólida. Em ambientes com pouca água a hidrólise ocorre parcialmente, originando sais de sulfônio estáveis, não reativos, os quais formam uma camada protetora ao redor do material, retardando a hidrólise.
Além dos efeitos em curto prazo, o gás mostarda causa câncer, sobretudo leucemia, nas vítimas que sobrevivem à exposição a gás. A ação cancerígena está ligada à reação entre o íon sulfônio e as bases nitrogenadas do DNA, causando mutações que levam ao câncer.
O uso do gás mostarda foi banido após a I Guerra mundial. Ainda assim, algumas nações desrespeitaram a proibição, como aconteceu no ataque do governo iraquiano à população curda nos anos de 1990. Atualmente, o melhor método disponível para desintoxicação e descontaminação emprega peroxiácidos de ácidos graxos (RC(O)OOH, onde R = C7H15, C9H19 , C11H23, C13H27), os quais penetram na pele e degradam rapidamente o gás mostarda.


O gás mostarda contra o câncer
O gás mostarda sempre foi visto como um veneno particularmente terrível, resultando em uma morte dolorosa e muitas vezes lenta, mas, ironicamente, ao mesmo tempo que provoca o câncer, ele também tem sido usado para ajudar a curá-lo. Em 1919, pouco tempo após o primeiro uso do gás mostarda com arma química, observou-se que as vítimas apresentavam poucos glóbulos brancos, porque o gás mostarda causava destruição da medula óssea. Em 1946, estudos com camundongos mostraram que "mostardas nitrogenadas" (compostos análogos ao gás mostarda tendo um átomo de N no lugar do S) reduziam o crescimento de tumores. O avanço deste tipo de pesquisa levou ao primeiro quimioterápico, a meccloretamina e a diversos outros, especialmente úteis no combate ao linfoma de Hodgkin.

 

  

        1

 

    2

      3

Gás mostarda
(mostarda de enxofre)
 mostarda nitrogenada  mecloretamina


Créditos
Conteúdo produzido a partir de artigo originalmente publicado no site "Molecules of the month"(http://www.chm.bris.ac.uk/motm/mustard/mustard2.htm). Traduzido do inglês para o português por Paula B. M. De Andrade, PhD.