Sulfanilamida, C6H8N2O2S
Química Nova Interativa
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A sulfanilamida, 4-aminobenzeno-1-sulfonamida, fórmula C6H8N2O2S - 172,21 g.mol-1 é uma substância sólida (T.F. 165,5 ºC) nas condições ambiente.

Na molécula de sulfanilamida, salienta-se:

A sulfanilamida foi uma das primeiras sulfonamidas empregadas no combate às infecções bacterianas. Sua história começa em 1908, quando foi sintetizada pela primeira vez, mas seu reconhecimento como agente antibacteriano só ocorreu em 1935.
Quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, Gerhard Domagk (1895-1964) era um estudante de medicina em Kiel. Ele se alistou imediatamente no exército Alemão e lutou naquele ano na primeira Batalha de Ypres. Transferido para o fronte oriental, ele foi ferido na perna. Quando se recuperou, retornou ao fronte como médico assistente nos hospitais localizados nos campos de batalha e viu como os soldados feridos contraiam facilmente infecções bacterianas. Depois disso, jurou que faria tudo que podia para curar essas infecções.

 

1Depois da Guerra, Domagk voltou para Kiel e se formou em 1921. Ele se tornou professor universitário e depois passou a dirigir um laboratório especializado em patologia experimental na I.G. Farbenindustrie, em Elberfeld, Alemanha. Ele pesquisava moléculas ativas contra infecções por estreptococos utilizando corantes azoicos como agentes quimioterápicos. Sua equipe testou centenas de substâncias, e depois de 5 anos de trabalho, no final do ano de 1932, ele descobriu que o agente KL730, posteriormente conhecido como Prontosil, combatia as infecções por estreptococos em ratos de laboratório (in vivo), mesmo em doses bem baixas, porém, não funcionava in vitro.
Os testes em humanos com infecção por estreptococos - a qual não havia nenhum outro tratamento - foram bem sucedidos, e a droga foi patenteada no final de 1934 e começou a ser utilizada. O primeiro artigo publicado por Domagk sobre o Prontosil foi publicado em Fevereiro de 1935.

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Em um estudo Britânico conduzido por Leonard Colebrook e Méave Kenny em 1936, no hospital de Charlotte, a taxa de mortalidade em pacientes que sofriam de sepse puerperal caiu de 20% para 4% depois da introdução do Protonsil no tratamento.
Em dezembro de 1935, Hildegarde Domagk, filha de seis anos de Gerhard Domagk, sofreu um acidente em casa que resultou em uma infecção por estreptococo. A infecção se espalhou por seu braço e os médicos diziam que ela teria que amputá-lo. Gerhard Domagk tratou sua filha com o Prontosil e a infecção foi vencida. Um dos fatos que tornou o Prontosil muito famoso foi a cura de Franklin Roosevelt Jr., então filho do Presidente dos EUA.
Com o passar do tempo, o Prontosil já não era mais a última novidade em medicamentos antibacterianos. Em novembro de 1935, a equipe de Daniel Bovet, do instituto Pasteur em Paris, descobriu que a sulfanilamida (4-aminobenzenosulfonamida), era ativa tanto in vitro quanto in vivo. Enzimas intestinais no corpo humano convertiam o Prontosil em sulfanilamida, que era a molécula ativa. Isso explicava o porquê do Prontosil não ser ativo in vitro. Uma vantagem da sulfanilamida sobre o Prontosil é que ela não deixava pele dos pacientes avermelhada. Além disso, a sulfanilamida era bem mais barata que o Protonsil.
A sulfanilamida foi sintetizada pela primeira vez em 1908 por Paul Gelmo durante seu PhD e patenteada em 1909. Quando a equipe de Bovet fez a descoberta, sua patente já havia sido expirada. Por suas contribuições, Bovet recebeu o premio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1957.
Ela pode ser sintetizada através da anilina em quatro etapas. Primeiramente, a anilina é acetilada para proteger o grupo amina facilmente oxidável. Depois, é sulfonada com ácido clorossulfônico seguido da adição de amônia para formar o grupo sulfonamida. Por último, é aquecida com HCl aquoso para remover o grupo de proteção.

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3A sulfanilamida foi um grande sucesso, porém, sua história foi manchada em 1937 por um cientista Americano que criou o "elixir de sulfanilamida". Ele dissolveu a sulfanilamida em dietilenoglicol e adicionou um corante e fragrância de framboesa. Esse "elixir" foi comercializado para tratamento de infecções da garganta. Ninguém fez nenhum teste animal ou checou a literatura para verificar se estavam usando alguma substância tóxica. Como resultado, 107 pessoas, a maioria crianças, morreram depois de utilizar o "elixir". Anos mais tarde, Frances Oldham Kelsey, estudante de PhD, descobriu que a substância responsável pelas mortes não era a sulfanilamida, mas o solvente dietilenoglicol.

As manifestações populares resultaram, em 1938, no Ato Comida, Drogas e Cosméticos, que criou restrições à introdução de novas drogas no mercado. Antes, um fabricante não precisava provar que seu produto era seguro, mas após o Ato, oficiais tinham que revisar os resultados dos testes e tinham o poder de exigir testes extras, além de impedir a comercialização.
O mecanismo de ação da sulfanilamida foi descoberto, em 1940, por Donald Woods, pesquisador de Oxford. Ele descobriu que a sulfanilamida possuía estrutura muito semelhante ao ácido para-aminobenzóico (PABA) e por isso, competia com o PABA pela enzima dihidropteroato sintetase, inibindo assim as reações enzimáticas necessárias para a produção do ácido dihidrofólico. Este último, é posteriormente usado para produzir outras moléculas, inclusive as bases purinas necessárias para construir o DNA bacteriano. A bactéria não consegue se multiplicar e crescer, logo, o sistema imune consegue acabar com a infecção.

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Hoje em dia, as drogas a base de sulfa já não são mais tão utilizadas quanto a 50 anos atrás. Muitas bactérias já se tornaram resistentes a elas, e existe também a possibilidade de causar danos ao fígado e de reações alérgicas.

 

A sulfanilamida é encontrada em produtos comerciais como:

 

 

Fonte:

Baseado no texto Simon Cotton, Uppingham School, Rutland, UK. Originalmente publicado em:
http://www.chm.bris.ac.uk/motm/sulfanilamide2/sulfanilamideh.htm
Autor: Rafael Garrett, doutorando em química do IQ-UFRJ