Batracotoxina, C31H42N2O6
Química Nova Interativa
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A BATRACOTOXINA, fórmula C31H42N2O6 - 538,67 g.mol-1, é um alcaloide é sólida na condição ambiente (T.F. decompõe-se).


Na molécula da batracotoxina, salienta-se:

 

 

A importância da biodiversidade

Quando tocados ou ameaçados, os pequenos sapos venenosos da selva amazônica produzem um veneno nas glândulas localizadas em suas costas e atrás de suas orelhas. Manipular estes sapos pode ser letal, se houver cortes ou pequenas lesões na pele.

Nesta secreção estão substâncias muito tóxicas, até mesmo mais tóxicas que o curare (venenos usados em flechas, extraídos de plantas) e a tetrodotoxina (peixe baiacu, que é 1000 vezes mais venenosa que o cianeto). Entre diversas substâncias que os sapos utilizam está a batracotoxina (do grego batrachos - sapo - e toxin - veneno). Cerca de 136 mg é a dose letal para uma pessoa que de 68 kg (equivalente a dois grãozinhos de sal de mesa). Um pequenino sapo de alguns centímetros carrega batracotoxina suficiente para matar 8 pessoas.

Nos anos 1960, estas toxinas de grande ação biológica foram descobertas em pequenos sapos coloridos - Phyllobates terribilis e Phyllobates bicolor. Estas substâncias foram descritas como batracotoxina e homobatracotoxina.

 

Phyllobates terribilis

Phyllobates bicolor

Phyllobates terribilis Phyllobates bicolor

 

Índio

Índios da Amazônia usam essa secreção há centenas de anos, para envenenar dardos. Eles perfuram o sapo com um pedaço de madeira e o mantém próximo ao calor, sendo a toxina expelida, como um suor, e recolhida.

 


A ação da batracotoxina provoca um aumento do fluxo de íons Na+ através da membrana externa das células nervosas e musculares, bloqueando sinais nervosos e gerando uma contração muscular irreversível. Certas células dentro do coração, muito sensíveis, acabam por levar à insuficiência cardíaca e morte. Mas não para o sapo, pois suas proteínas transportadoras de Na+ nos nervos e músculos não se ligam à batracotoxina.

 

A origem do veneno

Curiosamente, a batracotoxina também foi encontrada nas penas dos pássaros Pitohui (Pitohui dichrous) e Ifrita kowaldi , de Papua Nova Guiné, os quais jamais eram consumidos pelos nativos da região. Como pássaros e aves tão distantes geográfica e evolutivamente poderiam ter o mesmo veneno?

 

Pitohui dichrous

Ifrita kowaldi

Pitohui dichrous Ifrita kowaldi

 

Em 2004, foi relatado que os besouros Melyrid (Choresine), conhecidos por possuírem grandes quantidades de batracotoxina, foram encontrados no estômago de aves Pitohui na Nova Guiné. Estes besouros são encontrados também na Amazônia e, portanto, eles devem fazer parte da dieta tanto dos pássaros quanto dos sapos. Conclui-se que sapos e pássaros não produzem a toxina, devendo ingeri-la. A explicação faz sentido com o fato de que sapos nascidos em cativeiro não tem batracotoxinas na pele e, nos capturados na natureza, a quantidade de veneno diminui com o tempo. O que não se sabe é se esses besouros produzem a toxina ou também a ingerem de outra espécie.

Alguns sapos fabricam seus próprios alcalóides ou modificam alcalóides adquiridos na dieta, como os sapos australianos da família Myobatrachidae, do gênero Pseudophryne. Para esses animais, as toxinas são essenciais para evitar predadores, embora algumas serpentes sejam resistentes (mas não imunes) à batracotoxina. Os cientistas estão interessados nessas moléculas para estudar a maneira pela qual os impulsos nervosos são transmitidos, visando ao desenvolvimento de medicamentos para o coração e anestésicos.
Os sapos venenosos usam uma grande variedade de substâncias com estruturas até então inimagináveis e demonstram o intenso fluxo de moléculas entre os seres vivos da mata tropical. Quem pode dizer quantas substâncias ainda desconhecidas com potencial medicinal surpreendente nos reservam as florestas tropicais? Isso, por si só, é um bom argumento para conservá-las.

 

Créditos

Baseado em texto originalmente publicado em :
Versão para o português: Paula B. M. De Andrade, PhD