Ácido retinóico, C20H28O2
Química Nova Interativa
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O ácido retinóico, ou ácido 3,7-dimetil-9-(2,6,6-trimetilciclo-hexen-1-il)nona-2,4,6,8-tetraenóico, é um sólido amarelo alaranjado com fórmula molecular C20H28O2, massa molar 300, 43 g.mol-1 e T.F. 180-182 °C.

Na molécula de ácido retinóico salienta-se

 

O ácido retinóico é a forma ácida, oxidada, da vitamina A (retinol), sendo que a reação parte do retinol para o retinaldeído, que é transformado ao ácido carboxílico, de forma irreversível no organismo. Este ácido também é conhecido como tretinoína.

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Figura 1: Estrutura do ácido retinóico  Figura 2: Estrutura da Vitamina A (retinol)


A cegueira noturna (nictalopia) consiste na dificuldade de enxergar sob luz tênue e é uma doença diretamente associada a problemas de deficiência de retinóides. Sua cura na Antiguidade, especialmente no Egito Antigo, era obtida a partir da aplicação de "suco de fígado cozido" sobre os olhos, utilizada até os dias de hoje em algumas sociedades. O princípio ativo deste "suco" é a vitamina A.
O médico paraense Manoel da Gama Lobo foi o principal ator do estudo da investigação da deficiência de vitamina A no Brasil. Em sua obra "Da oftalmia brasiliana", publicada originalmente em 1865, descreveu uma doença que atingia escravos mal-alimentados. Em 1913, foi verificado que animais atingidos que apresentavam secura dos olhos eram capazes de reverter o problema com a ingestão de gema de ovos, leite e derivados, bem como óleo de fígado de bacalhau, o que foi novamente verificado em humanos durante o período da primeira guerra mundial.
Levantamentos sobre deficiência de vitamina A no Brasil demonstram que esta deficiência é um problema de saúde pública espalhada por todo país, especialmente em crianças na idade pré-escolar.

Inicialmente, a vitamina A foi denominada como fator "lipo-solúvel A", por McCollum e Davis (1913), os quais observaram que a manteiga e a gema do ovo continham fatores de crescimento essencial para ratos. Concomitantemente, Osbone e Mendel (1913) demonstraram a importância da manteiga e leite integral no crescimento animal, após encontrarem nestes um fator de crescimento similar, marcando assim o início da história desta vitamina.
Outro marco importante foi em 1957, quando Moore demonstrou que a vitamina A era biologicamente convertida a partir de β-carotenos, estocado no fígado. Os β-carotenos são amplamente distribuídos nos vegetais, enquanto que a vitamina A é exclusiva de alimentos de origem animal.

 

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Figura 3: Conversão de β-carotenos em Vitamina A
Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/vitaminas/vitaminas_frame.html

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β-ionona

 

Retinóides são compostos de vinte carbonos contendo um anel β-ionona (círculo vermelho) e cadeia lateral de ligações duplas conjugadas (setas). Esta forma com estereoquímica trans confere flexibilidade na apresentação dos vários isômeros geométricos. A síntese do retinal normalmente se processa a partir do monoterpeno citral, passando pela β-ionona .

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Figura 4: Ácido retinóico com marcação das estruturas apresentadas nos retinóides.

O termo Vitamina A é uma descrição genérica para os retinóides que apresentam atividades biológicas do retinol, como exemplo:

  1. Retinal;
  2. Ácido retinóico;
  3. Palmitato de retinol, etc.

Os retinóides atuam como hormônios e sua atividade biológica depende da ativação de receptores nucleares. No organismo, a conversão do ácido retinóico ocorre nas hemácias e em suas células alvo. O ácido retinóico é uma molécula natural que ativa os Receptores do Ácido Retinóico (RAR). A existência de vários tipos de RARs expressos significa que o efeito produzido, a partir de sua ativação, varia de acordo com a sua seletividade.

O ácido retinóico atua na proliferação e diferenciação celular, na produção de sebo e na síntese de colágeno. Sendo assim, este é utilizado no tratamento de diversas disfunções dermatológicas como acne, rugas e distúrbios de queratinização. É também útil no tratamento de estrias e celulites.

Além disso o ácido retinóico tem sido utilizado com eficácia em terapia antineoplásica e em medidas preventivas de tumores secundários no trato gastro-intestinal e respiratório superior.

Apesar dos benefícios apresentados o ácido retinóico apresenta alguns efeitos adversos como:

  1. É teratogênico quando administrado no primeiro trimestre de gravidez ou quando a gravidez ocorre quatro meses após o término do tratamento, podendo causar aborto espontâneo ou má formação fetal;
  2. Envolve o sistema nervoso central, podendo gerar: depressão, diminuição de libido, impotência e insônia;
  3. Na pele como provocar urticária, eritema e hiperpigmentação;
  4. Nos sistemas hematopoiético e linfático pode ocorrer redução dos níveis de leucócitos, aumento da sedimentação de hemácias e diminuição da concentração de hemoglobina. Sendo assim, apesar de importantíssimo ao organismo, deve ser ingerido com orientação médica.

 

Créditos:
Anna Caroline Santos, graduanda da graduação de Farmácia da UFRJ e Fernanda Gouvêa Gomes Ürményi, mestranda da PG Química da UFRJ